sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O zizizi da Tia Zizi e o pliplipli do Mestre Plínio

O zizizi do violino de tia Zizi e o pliplipli do bandolim de Plínio, acompanhados pelo violão de Odeni, compõem essa foto de uma sonoridade nunca antes ouvida, muito menos vista. Tenho uma grande paixão por fotografia, mais ainda quando ela mexe com a nossa memória cultural. Quem viveu, ou conheceu Uruaçu dos anos de 1960 e 1970, entrando pela década de 80, sabe muito bem a que estou me referindo.
Era uma cidade deliciosamente musical. Já escrevi sobre o amigo Kubitschek (para ler, clique aqui), filho do mestre Plínio, inspirado por uma foto colocada no Facebook. Hoje, descubro, na página da minha querida prima Odeni, essa foto histórica. Nela aparece o próprio Plínio – um dos maiores instrumentistas da história musical de Goiás – e tia Zizi, que tocava violino divinamente. Ambos já trocaram esse palco da vida por um mais sublime e celestial. A prima Odeni os acompanha no violão, que aprendeu a tocar com a mãe.
Tia Zizi, cujo nome de batismo era Odete, sempre foi uma pessoa doce, suave, de uma mansidão inigualável. Quase se tornou freira, mas trocou a vocação pelo amor que tinha por tio Nicanor. No convento, além dos princípios religiosos e a devoção por Cristo, aprendeu música. E tocava com a alma.
Lembro que certa vez escrevi uma poesia para tia Zizi. Ao recebê-la, ela disse carinhosamente: “muito obrigada, meu filho, mas será que eu mereço isso tudo”. Na verdade, merecia muito mais. Foi uma pessoa caridosa durante toda a sua vida. Cuidou da minha avó como se fosse sua própria mãe.
Plínio era um músico do mundo e da vida. Desenvolveu seu talento pelas ruas e bares de Uruaçu, sempre acompanhado de Diogo (violão e voz), Aleixo (sanfona), Bidoro (violão e bandolim), Chicão (voz e caixinha de fósforos) e tantos outros de uma geração fantástica. Logo, logo nos aproximamos deles e aprendemos muito sobre música, principalmente Kubitschek, Iliomar, Jorginho e Zé Renato (filho do Aleixo).
Plínio se aproximou do Clube do Samba, em Goiânia, que tinha uma turma de músicos de altíssimo nível, entre eles Quietinho, um gênio no violão de sete cordas. Essa turma chegou a se reunir e a tocar em Uruaçu, pra nosso deleite.
Depois fomos afastando-nos um dos outros. Alguns mais apressadinhos nos deixaram mais cedo do que o combinado. Restaram nossas memórias, muitas saudades e essa foto que Odeni guarda com carinho no seu álbum de retratos.

7 comentários:

  1. Crônica linda e verdadeira sobre um tempo e pessoas que deixaram muitas saudades..e que foto, hein? inclusive com direito à imagem romântica da bela Odeni, tão suave quanto a mãe...! Essa foto é uma preciosidade! Parabéns por resgatá-la!

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    1. Pois é, mestre Itaney. Temos que reverenciar sempre essas pessoas. Eles marcaram um época. Grande abraço.

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  2. Crônica sensível e verdadeira sobre um tempo e pessoas que deixar marcas em nossa alma, marcas de saudade, afeto e admiração...é um achado, uma preciosidade essa foto, inclusive com direito à imagem linda e romântica de Odeni, que herdou da mãe a sensibilidade musical e a suavidade no trato...Parabéns por resgatar essa foto, José e Odeni!

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  3. Elogio a sua sensibilidade cultural. É uma pena que não houve sucessores nessa arte. A professora Zizi no violino,
    Sr Plinio no cavaquinho,Aleixo, Diogo com seu vozeirão, que lindo era!!! Depois veio a era do Kubstchek no violão,Rômulo seu irmão, Leo, Jorge, Nélio, quantas serentatas...e olhe que participei de muitas que fizemos. Neide, Lídia, Sônia...êta tempo bom. Hoje, nessa era de computador para tudo, mt difícil resgatar momentos como esses. Abraços Selma

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    1. Selminha, você tem razão. Foi um período mágico, difícil de se resgatar. E tivemos a sorte de receber amigos de fora, como o Nélio, que você citou, e também o Rubão, que passaram a ser uruaçuenses como nós. O Rômulo, filho mais novo do Plínio, veio depois e foi, talvez, o último fruto dessa época. De lá pra cá, parece que paramos no tempo. Grande abraço.

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  4. Linda foto, três pessoas delicadas e cheias de musicalidade,ah...Tia Zizi cantando : Fiz meu rancho na beira do Rio, meu amor foi comigo morar, e nas noites de frio meu bem me abraçava para me agasalhar. Uruaçu é só saudades ! Vamos curtir enquanto podemo tudo por lá . Beijos!

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