domingo, 3 de novembro de 2013

Sobre catedrais, seus vitrais e tantos sonhos passados



As igrejas fazem parte das nossas lembranças dos tempos de criança, quando as frequentávamos cheios de sonhos, ilusões e esperanças. Era quando recebíamos os primeiros ensinamentos sobre moral, religião, mas também o momento de outras tantas descobertas. Não é por acaso que as catedrais são como castelos de areia, fazem parte de poesias, músicas, contos e crônicas sempre associadas a histórias fantásticas, românticas e algumas vezes permeadas de revelações e questionamentos sobre nossa passagem por esta vida.
Uma delas está em Trem noturno para Lisboa, de Pascal Mercier, que é um belo livro - e quem ainda não leu deveria ler. Nele há uma passagem muito interessante sobre as catedrais, os seus vitrais, e todos os questionamentos que um jovem intelectual consegue e pode fazer sobre as razões da existência humana. Enquanto somos jovens não há limites para críticas. A ousadia e a criatividade voam alto, iluminadas pela luz que enche de beleza os vitrais das catedrais.


Faço essas considerações porque hoje baixou uma saudade arretada daqueles tempos em que nossa existência gravitava em torno da Catedral de Uruaçu, a igreja matriz da nossa cidade, o colégio ali do lado e tudo que fazíamos era por ali. Como éramos felizes e todos os nossos amigos e pessoas queridas estavam vivos! Até os dissabores eram passageiros. Não duravam mais do que um raio de luz passando por um desses vitrais da igreja.
O que fica mesmo são as boas lembranças, momentos inesquecíveis como o de sentar nos degraus daquela catedral e ficar observando o tempo e as pessoas passarem, como tudo passa nessa vida. Uma conversa fiada, ao som de violões e sob a luz suave e macia do luar. Um namoro escondido ou uma escapada de uma cerimônia modorrenta que custa a chegar ao fim.
Os vitrais das catedrais são lindos de se ver, por dentro e por fora. Quem observa o conjunto da obra se contenta com o prazer estético, a arquitetura que muitas vezes se sobrepõe ao valor histórico. Do lado de dentro, sentimos mais forte a beleza da fé, o que há de grandioso nos ensinamentos das religiões e, sem os quais, muitas pessoas não conseguiriam o mínimo de equilíbrio pelos caminhos tortuosos da vida. A luminosidade dos vitrais é assim, vista do interior das catedrais é mística e nos enche de grandiosidade.


Catedral
José Carlos Camapum Barroso

 Passa-se o tempo
Como passa o vento,
Nossos sonhos e
Até pensamentos
Passam, na Catedral.

 Passa o momento
Que se supunha sempre!
E era tão fugaz...

 Vão se os amigos
A lugares distantes
Nunca alcançados
Em versos de saudades.

 Somos um vitral...
Apagado pelo tempo,
A refletir a luz ausente
De alguns luares.

 Somos a Catedral,
Cheia de sonhos;
Alguns alcançados,
Outros espalhados
Por remotos lugares.

 Catedrais e seus vitrais
São restos de ilusões,
E muito mais.

 

Catedral
Composição: Tanita Tikaran
Versão: Zélia Ducan

O deserto
Que atravessei
Ninguém me viu passar
Estranha e só
Nem pude ver
Que o céu é maior
Tentei dizer mas vi você
Tão longe de chegar
Mas perto de algum lugar

É deserto
Onde eu te encontrei
Você me viu passar
Correndo só
Nem pude ver
Que o tempo é maior
Olhei pra mim
Me vi assim
Tão perto de chegar
Onde você não está
No silêncio uma catedral
Um templo em mim
Onde eu possa ser imortal
Mas vai existir
Eu sei
Vai ter que existir
Vai resistir nosso lugar
Solidão
Quem pode evitar
Te encontro enfim
Meu coração é secular
Sonha e deságua
Dentro de mim
Amanhã devagar
Me diz
Como voltar

Se eu disser
Que foi por amor
Não vou mentir pra mim
Se eu disser
Deixa pra depois
Não foi sempre assim
Tentei dizer
Mas vi você
Tão longe de chegar
Mas perto de algum lugar...


Um comentário:

  1. Belo Poema . Belo texto . Parte de todos nós, da nossa juventude, dos nossos sonhos, hoje muitas lembranças e saudades . É bom ouvir e ver essa Catedral, quem não tem um belo caso para contar ocorrido por ali . Sugiro que alguém, vocês (amigos escritores), faço uma coletânea das histórias mais interessantes e publique um livro de Contos da Catedral . Muito bom. Beijos!

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