terça-feira, 16 de maio de 2017

Morre o mestre e maestro Joaquim Jaime, o Nega


O mestre e maestro Joaquim Jaime, carinhosamente chamado de Nega, morreu na noite de ontem, em Goiânia, aos 76 anos de idade, em consequência de um AVC. O maestro Joaquim era um músico excepcional, reconhecido pelo seu talento no Brasil e também no Chile e na Alemanha, países em que ampliou sua formação e também foi professor. Nascido em Niquelândia, Goiás, estudou piano em Goiânia com Belkiss Spenciére Carneiro de Mendonça. Fez pós-graduação no Departamento de Música da Universidade de Brasília, sob orientação do maestro e compositor Cláudio Santoro. Foi perseguido e preso pela ditadura militar, buscando exílio no Chile.

Em Santiago, onde conheceu e casou com a chilena Mirtes, o companheiro Nega foi aprovado em primeiro lugar no concurso para professor, tornando-se depois Diretor do Departamento de Música da Universidade de Concepción,  do Chile. Mais uma vez enfrentou um golpe militar, dessa vez para derrubar o presidente socialista Salvador Allende. O músico estava no aeroporto, a caminho do avião, quando quase foi preso pela polícia da ditadura chilena, sendo salvo pelo embaixador da Suíça, que interferiu impedindo sua prisão.
Do Chile para a Holanda e depois para a Alemanha, onde fez mestrado de Musicologia pela Universidade Rostock, na Alemanha Oriental. Com a anistia, retornou ao Brasil e fundou a Orquestra Filarmônica de Goiás. Em 1993, a convite da Prefeitura, organizou a Orquestra Sinfônica de Goiânia. Poucos anos depois, uniu o Coral Municipal com a Camerata Vocal de Goiânia, criando o Coro Sinfônico de Goiânia. Compôs o Hino do Estado de Goiás, com letra de José Mendonça Teles.

Em 1999, recebeu o troféu Jaburu, concedido pelo Conselho Estadual de Cultura, pela obra antológica Ricordanza, um CD de 12 músicas, com letras dos poetas goianos Aidenor Aires, Jacy Siqueira e Leo Lyce.
Nega era um apaixonado por música e pela gastronomia (tanto em qualidade, como em quantidade). Tive a oportunidade de conhecê-lo. Era muito culto e espirituoso. Certa vez, fez um comentário que me deixou honrado. Disse para o casal Goiá Jaime (seu irmão) e Vênus Mara (minha cunhada), o seguinte: “o cabeludo conhece muito de música”. O cabeludo era eu, nos tempos que ainda tinha muito cabelo.


Certa vez, ao escrever sobre o Dia da Música e do Músico (para ler clique aqui), pedi que escolhesse uma música para homenagear a categoria. Sugeriu que eu postasse um réquiem de Mozart. Está lá, homenageado, juntamente com os mestres Gamela e Plínio.
O amigo, mestre e maestro Nega vai fazer muita falta. Não só para a cultura goiana, do Centro Oeste, mas para todo o universo da música brasileira e mundial. Quem sabe formará um trio com Gamela e Plínio, ampliando a beleza do universo e fazendo cintilar mais intensamente o brilho da constelação das estrelas. Niquelândia, Pirenópolis, Nazário, Goiânia, Goiás, o Brasil, o Chile, a Holanda, a Alemanha... todos estamos de luto.
Nos vídeos abaixo, o Hino de Goiás e um trecho de ensaio da orquestra com o maestro Joaquim Jaime, no qual se pode perceber que alem de exigente, com cara de bravo, ele também era bem humorado.




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