segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Carnaval dos Amigos esquece a tradição e cai no lugar comum


Uma pena, mas, infelizmente, o Carnaval dos Amigos, em Goiânia, a cada ano que passa, na mesma proporção que cresce, está perdendo sua identidade e ficando distante das motivações pelas quais foi criado. Lá, no longínquo 2003, quando o Bloco dos Amigos, sozinho, desceu a avenida, do restaurante Flamingo até o Vaca Brava, o sonho de todos era o de resgatar o verdadeiro carnaval, embalado pelas marchinhas, frevos, sambas de enredo e sambas afinados com o espírito da festa. Não é bem isso que salta aos olhos, fere os ouvidos e dói na alma, depois de terminada a 16ª edição da festa, no último sábado.


Confesso que acordei com uma ressaca moral no domingo, com gosto de quarta-feira de cinzas na garganta, pois, pela primeira vez não pude participar do Carnaval dos Amigos, que ajudei a criar e pelo qual tenho orgulho. A ressaca piorou mais ainda quando comecei a receber os comentários sobre a festa e, também, pelas matérias estampadas nos jornais. O Carnaval dos Amigos passou a ter de tudo em seu repertório: rock, música sertaneja, Anitta, funk e outras músicas que nada têm a ver com o Carnaval.
No salão em que se concentra o Bloco dos Amigos, no Flamingo ou no Oliveira’s Place, não se tocava esse tipo de música, exatamente porque a proposta sempre foi a de resgatar a tradição dos carnavais de salão e de rua, com bandas e as músicas condizentes. Este ano, abriram as porteiras e o repertório foi contaminado por músicas sertanejas e outras querelas que não têm identificação com o Carnaval. A justificativa, se é que ela existe, dada pelos organizadores, é a de que o Bloco dos Amigos se uniu ao do Zeferino, e este toca tais músicas.


A rigor, o bloco do Zeferino, ou qualquer outro, ao decidir participar do Carnaval dos Amigos deveria estar imbuído do mesmo espírito carnavalesco. Caso contrário, todos esses blocos deveriam e poderiam ter criado um outro carnaval, dentro de outros padrões e propostas. Nada contra. Poderiam imitar os carnavais de Salvador, com músicas baianas, axé, sertanejas, rock e um cordão de isolamento para cada bloco.
Esse lado triste e empobrecedor da festa fica ainda mais notório, e decepcionante, quando olhamos as fotos do Carnaval dos Amigos. Muita gente bonita, fantasiada, com fantasias criativas, interessantes, bem dentro do espírito carnavalesco. Fico imaginando todos esses personagens dançando no salão e nas ruas ao som de música sertaneja, rock’n’roll, Anitta...


Não dá. É muito triste e decepcionante. E eu fico me perguntando, cá com meus botões: tem solução para as próximas jornadas? Pouco provável, mas, fica o desafio para todos nós, admiradores, organizadores, participantes e todos aqueles que amam e curtem o verdadeiro carnaval.
Vamos refletir juntos? Antes tarde do que nunca.



3 comentários:

  1. A música do João Bosco já diz quase tudo.Minha sugestão é que o Flamingo seja o espaço para os amigos fundadores. Quem quiser sertanejo, Axé, há muitos salões em Goiânia. Vale a pena uma séria discussão. Lamentável, triste.

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  2. Poderíamos organizar um bloco do amigos de Uruaçu, em que o roteiro carnavalesco obedeceria ao espírito que inspirou o carnaval dos amigos: bandinha tocando marchinhas, sambinhas carnavalescos, com blocos e fantasias do autêntico carnaval brasileiro, resgatando suas raízes. Vamos divulgar, já para o ano que vem, que acha? Estou contigo!

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  3. Que pena em saber que esse ano o famoso e tradicionalíssimo Carnaval dos Amigos, perdeu um pouco do seu encanto com a mistura de tantos outros ritmos que em nada condizem com suas raízes.
    Desde muito jovem escuto meu pai, Costinha, falar com alegria, todos os anos, do carnaval dos amigos, de como a “brincadeira é saudável” e o clima é leve e descontraído. Acho que ele mesmo nunca participou, mas vejo a vontade latente em seu coração.
    Essa mudança de foco musical de um tradicional grupo, é realmente lamentável.
    Mas, um carnaval dos amigos de Uruaçu seria uma excelente pedida, como bem disse o Dr. Itaney! Seria um orgulho imenso acompanhar a continuação das tradições do Carnaval Brasileiro.

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